terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Igreja no Mundo - África

Márcio Martins
 
Um rastro de conflitos
 
palavra Sudão deriva da expressão árabe Bilad-as-Sudan, que significa “terra dos negros”. No entanto, para o governo sudanês, a palavra parece ter perdido o sentido.
 
Desde 1956, quando o Sudão conquistou sua independência do Reino Unido, o país passou a ser governado por um sistema totalitário, que provocou uma guerra civil de quase vinte anos.
Houve uma trégua em 1972 e, durante uma década, o Sudão permaneceu sob uma paz frágil e delicada. Porém, em 1983, fundamentalistas islâmicos tomaram o poder e impuseram as leis islâmicas (Sharia) ao restante do país.
 
A Sharia dividiu o Sudão e uma atmosfera de tensão recobriu o país, culminando em uma nova guerra que subsiste até hoje.
 
De um lado, o governo fundamentalista islâmico, representado pelos árabes do norte e sua Frente Islâmica Nacional (FIN). Do outro, os guerrilheiros africanos das tribos do sul, que formaram a organização camuflada Exército da Libertação do Povo do Sudão (ELPS). Entre o fogo cruzado, encontra-se a população cristã, que habita, em sua maioria, no sul do país. Há cerca de dois anos, outra frente de combate surgiu no oeste, na região de Darfur, onde os confrontos geraram uma crise humanitária inconcebível.
 
O Sudão é o maior país do continente africano com cerca de 33 milhões de habitantes: 70% são muçulmanos, 20% são cristãos e 10% dividem-se em crenças tradicionais e aqueles que não possuem religião. Após duas décadas de conflito, os números revelam um triste rastro de miséria e morte: 5 milhões de refugiados e 3 milhões de mortos.
 
Um regime de perseguição, tortura e dor
 
Devido aos constantes distúrbios de paz, houve uma deterioração da infra-estrutura do país. Quase 2,4 milhões de sudaneses estão ameaçados pela fome e a capacidade do governo em atender ao serviço social é irrisória. Doenças como hepatite, malária, tuberculose e a febre tifóide são freqüentes entre a população castigada pelo conflito.
 
Os cristãos são os que mais sofrem no Sudão, vitimados pelas campanhas de islamização impostas pela Frente Islâmica Nacional. Os combatentes roubam os rebanhos, desabrigam e incendeiam os vilarejos. Bombardeios aéreos geram destruição, trauma e morte, além de provocar o deslocamento forçado de milhões de cristãos.
 
A fome é utilizada pelo governo como arma de guerra no conflito, causando sofrimento e ceifando vidas. A ordem é para reter as remessas humanitárias, que acabam sendo distribuídas entre os próprios soldados, proliferando uma multidão de famintos e necessitados nos campos de refugiados.
Milícias muçulmanas provocam seqüestros, atacam e violentam mulheres e meninas, como parte de uma estratégia para aterrorizar e humilhar a comunidade cristã. Registros denunciam a separação de famílias, a obrigatoriedade da conversão de crianças cristãs ao islamismo e a venda de cristãos como escravos a comerciantes árabes do norte do Sudão.
 
Ao longo dos últimos anos, igrejas e instituições católicas foram destruídas ou tomadas à força, padres e religiosos foram presos sob falsas acusações e até casos de pena de morte aos muçulmanos convertidos ao cristianismo já ocorreram. Relatos ainda revelam a utilização de tortura, além da prática da “crucificação” de cristãos, que consiste no espancamento de pessoas amarradas em cruzes.
Em Wau, cidade situada ao sul do país e severamente castigada pelas milícias do governo, o padre Gabriel recebeu a visita da obra de caridade internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e fez o seguinte relato à entidade: “As pessoas estão com sede. Elas têm sede de ajuda e por isso vêm até a Igreja, porque nós sofremos com elas. Procuram por conselhos e nós tentamos, urgentemente, dar o que elas necessitam.”
 
Projetos que aliviam e salvam
 
Diante da terrível perseguição a que os cristãos estão sendo submetidos, a AIS foi impelida a desenvolver um trabalho de total empenho em atender às necessidades da Igreja no Sudão, trazendo a luz da esperança e da fé aqueles que sofrem no maior país da África.
Com o suporte financeiro de seus benfeitores, a entidade socorre mais de 50 mil crianças nos campos de refugiados e ao redor de Cartum, capital do país. Apóia projetos que mantêm escolas cristãs; atende aos pedidos dos bispos locais, providenciando cuidado social e suprimento de remédios, alimentos e água limpa para as famílias pobres.
 
A Bíblia da Criança, propagada mundialmente pela AIS, foi traduzida para alguns dialetos locais e distribuída pelas aldeias; além de projetos de reconstrução e reforma das igrejas destruídas pelas tropas governamentais. Nos vilarejos vitimados pela guerra, projetos de auto-suficiência são implementados para ensinar apropriadamente a costurar, a cozinhar e a realizar o plantio e a colheita, para que, dessa maneira, os habitantes possam vender nas feiras os produtos produzidos por eles.
Em quase todo o Brasil, campanhas foram iniciadas para dar o estímulo que a Igreja do Sudão, pobre e devastada, tanto necessita: recursos financeiros para livros, transporte de seminaristas e o apoio a programas de catequização nas paróquias, que batizam centenas de adultos por ano. Mesmo com todas as dificuldades, a AIS exorta os cristãos sudaneses a permanecerem fiéis a Cristo, porque acredita que a paz prevalecerá e que o verdadeiro significado do nome Sudão será respeitado.

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