Hélio
Pariz
Profecia do fim do mundo com data marcada é um
fenômeno assim meio sazonal. Mal uma é desmascarada como falsa, surge outra no
seu lugar.
É um caso cíclico de lendas e mitos divulgados
por pessoas que se acham iluminadas, mas não aprendem com os erros dos
"profetas" que lhes antecederam.
Na edição de 20 de maio de 2011, ainda sob o
impacto do "fim do mundo" que o pastor norteamericano Harold Camping havia
previsto exatamente para aquele dia, a revista
Time publicou a sua lista das 10 mais famosas profecias apocalípticas que
falharam.
Curiosamente, todas as profecias têm em comum o sentido de urgência. Aguarda-se o apocalipse para muito breve, e todos devem proceder com a rapidez desejada para tanto, e, cá entre nós, faz tempo que a sabedoria popular diz que a pressa é inimiga da perfeição.
Agora, diante da perspectiva de mais um dia do
fim do mundo fracassado, no caso hoje, 21/12/12, nada melhor do que relembrar
aquela matéria da Time, com as devidas adaptações:
1) Os milleritas
Eles tomaram esse nome em função de terem
seguido o pastor William Miller, a quem a revista Time chama de "provavelmente o
mais famoso falso profeta da história".
Miller começou a pregar o fim do mundo no
começo da década de 1840, dizendo que Jesus retornaria à Terra e o planeta
arderia em fogo em algum ponto entre 21 de março de 1843 e 21 de março de
1844.
A mensagem de Miller foi amplamente divulgada e
cerca de 100.000 seguidores seus venderam tudo o que tinham e foram para as
montanhas esperar o fim predito.
Entretanto, quando o período anunciado passou
em brancas nuvens, Miller disse que havia cometido um "equívoco" nos cálculos, e
marcou a nova data do fim do mundo para 22 de outubro de 1844. Novo
fiasco.
Esse dia passou para a história americana como
o "Dia da Grande Decepção", mas boa parte dos seguidores de Miller se reagrupou
alguns anos depois sob o comando de Ellen G. White, vindo a formar a igreja
adventista do sétimo dia, que manteve o dia 22/10/1844 como a sua peculiar
doutrina do "juízo investigativo", em que Cristo teria retornado aos céus, ao
Santo dos Santos, para terminar sua obra de expiação dos pecados.
2) Harold Camping, 1994 e 2011
O pastor americano é reincidente na triste
função de falso profeta. Em 1992 ele já havia previsto a segunda volta de Cristo
e o fim do mundo para alguma data em meados de setembro de 1994.
Depois que sua "profecia" fracassou, Harold
Camping disse que estava triste mas isso não o incomodava nem um pouco.
O segundo fracasso de 2011, entretanto, parece
que convenceu o frustrado pastor futurólogo a aposentar sua bola de
cristal.
3) A profecia maia
Hoje, 21 de dezembro de 2012, é exatamente o
dia em que o calendário maia termina, segundo algumas fontes.
Entretanto, existe uma grande controvérsia
sobre se o calendário maia foi corretamente interpretado, o que não impediu que
muita gente entrasse em pânico com
a simples possibilidade de que ele pudesse estar certo.
De qualquer maneira, livros foram escritos,
filmes foram produzidos e - como sempre - muito dinheiro se ganhou com o pânico
gerado pela previsão midiática.
Sinal de que, diante do fracasso do apocalipse
maia, novas profecias virão em seguida, a fim de que alguns espertalhões
continuem ganhando muita grana às custas dos incautos.
4) William Branham
Também conhecido como "Irmão Branham", o pastor
pentecostal estava numa de suas pregações públicas em 28/12/1963 no Estado do
Arizona (EUA), quando uma "linda e misteriosa nuvem" teria deslizado pelo
deserto.
William Branham então subiu à montanha Sunset,
onde, segundo alegou posteriormente, teria se encontrado com sete anjos que
revelaram a ele o significado dos sete selos do livro do Apocalipse.
Alguns dias depois, já no Tabernáculo Branham
de Jeffersonvile (Indiana), o pastor pregou sete sermões por sete noites,
explicando o significado dos selos e das sete visões que ele teria recebido,
concluindo que Jesus retornaria à Terra em 1977.
Não houve tempo, entretanto, para que Branham
visse sua previsão dar com os burros n'água, já que ele morreu na noite de Natal
de 1965, seis dias após um motorista bêbado ter colidido seu carro com o do
pastor.
5) Os anabatistas de Munster
Nos conturbados anos que se seguiram à Reforma
Protestante, surgiram não só as igrejas reformadas tradicionais que conhecemos
hoje em dia, mas várias seitas milenaristas e apocalípticas que incomodaram
profundamente os próprios reformadores.
Entre os anabatistas não estavam somente
"pessoas que batizam de novo", como a raiz grega do nome evoca, mas anarquistas
e revolucionários de todo tipo que pregavam um mundo sem ordem e hierarquias
enquanto aguardavam - para muito breve - o retorno de Cristo.
Na década de 1530, milhares de camponeses
alemães tomaram a cidade de Munster, e ali ficaram entrincheirados numa espécie
de sociedade protocomunista medieval, dizendo que Munster era a Nova Jerusalém,
na qual esperavam a segunda vida de Jesus.
Entre eles estava Jan Bockelson, um alfaiate de
origem holandesa, que se declarou o "messias dos últimos dias", virou polígamo,
emitiu moedas que profetizavam o apocalipse urgentemente vindouro e dominou
cruelmente toda a população de Munster.
O fim veio para Bockelson em 1535, quando a
cidade foi tomada e a população dizimada pelas forças dos príncipes alemães. O
detalhe tétrico é que há quem diga que os testículos de Bockelson foram pregados
no portão de entrada de Munster.
6) Agonia do planeta de Hal
Lindsey
Hal Lindsey é um pastor e escritor americano,
nascido em 1929, que ficou muito conhecido nos anos 1970 por seu livro best
seller "The Late, Great Planet Earth", traduzido no Brasil por "A Agonia do
Grande Planeta Terra", publicado no Brasil pela Ed. Mundo Cristão.
Lindsey foi um dos grandes expoentes do
dispensacionalismo (corrente teológica que divide a história do mundo em "eras"
ou "dispensações" dos desígnios de Deus), e no livro em questão, tomando como
base sobretudo o retorno do povo judeu a Israel algumas décadas antes, predisse
que o mundo terminaria em alguma data pouco antes de 31 de dezembro de
1988.
Na esteira das previsões de Hal Lindsey, Edgar
Whisenant publicou em 1988 o livro "88 Reasons Why the Rapture Will Be in 1988"
("88 Razões pelas quais o Arrebatamento Acontecerá em 1988"), que (como todo bom
"fim do mundo") vendeu pra caramba, 4.500.000 de cópias, deixando seu autor
envergonhado pela falsa profecia, mas com uma gordíssima conta bancária para
afogar suas lágrimas de crocodilo.
Aliás, esse é outro detalhe curioso. Porque esses "profetas" gostam tanto de ganhar dinheiro com livros, vídeos, conferências e afins, se não vão ter tempo de gastá-lo?
Os ensinos de Lindsey continuam populares até
hoje, já que a famosa série "Left Behind" ("Deixados para Trás"), de Tim LaHaye
e Jerry Jenkins, continua vendendo muito bem, obrigado, e não é nada mais nada
menos do que a oferta das mesmas ideias requentadas da agonia do planeta Terra
da década de 1970.
Não vai tardar muito, portanto, para reaparecer
uma "profecia do fim do mundo" nesses mesmos moldes. Dá grana!
7) O "bug" do milênio
Os mais jovens não se lembrarão disso, mas a
maioria recordará o furor que tomou conta do mundo por ocasião da virada do ano
1999 para o ano 2000.
O temor de uma catástrofe mundial se baseava no
fato de que a imensa maioria dos computadores de então, por uma questão de
economia de equipamento, havia previsto apenas duas casas para designar o ano na
data (o famoso campo Y2K).
Desta maneira, quando 1999 virasse para 2000, o
risco era que, naquela meia-noite específica, os computadores de bancos,
empresas aéreas, fornecedoras de serviços públicos, etc., entendessem que o
mundo havia voltado a 1900 e alastrassem o caos pelo planeta.
Associe a esse dado tecnológico ao ditado popular "até 2000 chegarás, de 2000 não passarás" (que de bíblico não tem nada), e - pronto! - a confusão está estabelecida.
Apesar de todo o pânico prévio gerado
pelo bug do milênio, nenhum incidente cibernético de monta foi registrado
nos primeiros dias do ano 2000. Outro grande logro que também vendeu pra
caramba...
8) O Ramo Davidiano
Depois de uma infância pra lá de problemática e
passagens pelas igrejas batista e adventista, David Koresh (nascido oficialmente
como Vernon Wayne Howell) se juntou em 1981 à seita Ramo Davidiano, um grupo
dissidente dos adventistas que se formou na década de 1950.
A seita davidiana era baseada em Waco, no
Estado do Texas (EUA), num rancho que eles denominaram de Monte Carmelo. Não
demorou muito, entretanto, para que Koresh decidisse alçar, digamos, voos
próprios.
Em 1983, ele se autoproclamou profeta, e após
uma sucessão de intrigas dentro da seita, que incluíram assassinatos de líderes
concorrentes, Koresh convenceu vários seguidores a se juntarem a ele no rancho
em Waco para aguardar o fim do mundo.
Só que o fim do mundo, lamentavelmente, veio na
forma de um cerco das autoridades americanas, que durou 50 dias e exterminou da
face da Terra dezenas de seguidores de Koresh, além dele próprio e alguns
policiais.
9) Testemunhas de Jeová
A seita faz de tudo para que o mundo esqueça
que seu fundador, Charles Taze Russell, havia previsto o "retorno invisível" de
Jesus em 1874, que "prepararia" a sua Segunda Vinda em 1914.
O início da Primeira Guerra Mundial neste ano,
fez com que Russell decretasse o "fim da era dos gentios", o que se confirmou,
na verdade, como mais uma previsão furada.
Ele morreria em 1918, deixando aos seus sucessores a difícil tarefa de explicar por que o fim não chegou no ano previsto.
A solução destes foi apontar 1914 como aquele retorno invisível de Jesus que fora previsto para 1874 (data que seria posteriormente varrida pra debaixo do tapete).
Afinal, a Primeira Guerra Mundial era um evento importante demais para não ser aproveitado como evidência, já que - bem ou mal - eles haviam previsto alguma coisa estranha para aquele ano.
Só que as previsões para o fim do mundo não parariam por aí. O segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia, Joseph Franklin Rutherford, faria ainda uma previsão para 1925, quando os profetas do Antigo Testamento seriam ressuscitados.
Para acomodá-los (fisicamente falando), ele construiu a casa conhecida como Beth Sarim ("Casa dos Príncipes"), e - já que felizmente ninguém viu Isaías e Jeremias andando por aí - depois de 1925 a "hospedaria profética" sem uso acabou se tornando sua própria residência, onde morreria em 1942.
Um novo fim do mundo seria ainda previsto para 1975. A Torre de Vigia alegava que a criação do homem completaria 6000 anos naquele ano específico. E como em uma semana cujos dias equivalem a 1000 anos (2ª Pedro 3:8), os próximos 1000 anos seriam uma espécie de "milênio sabático".
Mais uma vez a data passou em branco, e atualmente nenhuma testemunha de Jeová conhece tal previsão.
Ele morreria em 1918, deixando aos seus sucessores a difícil tarefa de explicar por que o fim não chegou no ano previsto.
A solução destes foi apontar 1914 como aquele retorno invisível de Jesus que fora previsto para 1874 (data que seria posteriormente varrida pra debaixo do tapete).
Afinal, a Primeira Guerra Mundial era um evento importante demais para não ser aproveitado como evidência, já que - bem ou mal - eles haviam previsto alguma coisa estranha para aquele ano.
Só que as previsões para o fim do mundo não parariam por aí. O segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia, Joseph Franklin Rutherford, faria ainda uma previsão para 1925, quando os profetas do Antigo Testamento seriam ressuscitados.
Para acomodá-los (fisicamente falando), ele construiu a casa conhecida como Beth Sarim ("Casa dos Príncipes"), e - já que felizmente ninguém viu Isaías e Jeremias andando por aí - depois de 1925 a "hospedaria profética" sem uso acabou se tornando sua própria residência, onde morreria em 1942.
Um novo fim do mundo seria ainda previsto para 1975. A Torre de Vigia alegava que a criação do homem completaria 6000 anos naquele ano específico. E como em uma semana cujos dias equivalem a 1000 anos (2ª Pedro 3:8), os próximos 1000 anos seriam uma espécie de "milênio sabático".
Mais uma vez a data passou em branco, e atualmente nenhuma testemunha de Jeová conhece tal previsão.
10) O incêndio londrino de 1666
O número 666, como a maioria das pessoas
desconfia, tem um significado místico-cabalístico que transcende aquele
registrado como "a marca da besta" no livro de Apocalipse (cap. 13, v.
18).
As pessoas até suspeitam que o número 666 tem
alguma, digamos, "maldição embutida", embora nem sempre saibam exatamente a sua
origem.
Imagine agora como se sentiam os europeus às
vésperas do ano 1666, sobretudo no ano 1665, quando uma praga varreu 100.000
pessoas de Londres, matando 1/5 da população local à época.
Se já havia rumores de que o fim do mundo se
aproximava, a praga só os reforçou, até que no dia 2 de setembro de 1666 um
incêndio aparentemente inofensivo começou numa padaria da Pudding Lane e -
rapidamente - se alastrou pela cidade, queimando 13.000 edifícios e dezenas de
milhares de casas durante 3 dias do mais absoluto terror.
Apesar do pânico gerado (por motivos urgentes e
reais, registre-se), quando o fogo baixou e as cinzas se assentaram, pouco menos
de 10 pessoas morreram, e o fim do mundo foi adiado mais uma vez, exatamente
como ocorre hoje, 21 de dezembro de 2012.
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