quinta-feira, 28 de maio de 2015

Por que você pode confiar nos Evangelhos da Bíblia

Por que você pode confiar nos Evangelhos da Bíblia

“Eles estão fazendo um tremendo sucesso. Inspiram filmes milionários . . . e best sellers . . . São adotados por seitas cristãs, geram religiões, dão origem a teorias conspiratórias.” — SUPER INTERESSANTE, REVISTA BRASILEIRA DE NOTÍCIAS.
QUAL o motivo de tanta empolgação? A revista comentava que recentemente tem surgido muito interesse e atividade em torno de uma coleção de supostos evangelhos, cartas e apocalipses descobertos em meados do século 20 em Nag Hammadi e em outros lugares no Egito. Esses e outros documentos desse tipo são geralmente chamados de escritos gnósticos ou apócrifos.*

Houve uma conspiração?

Numa época em que as pessoas são céticas a respeito da Bíblia e das religiões ortodoxas, os escritos gnósticos ou apócrifos parecem ter uma boa receptividade. Esses escritos têm influenciado bastante o modo como muitos encaram os ensinos de Jesus Cristo e do próprio cristianismo. Como comentou certa revista: “O Evangelho de Tomé e outros apócrifos falam ao coração de um contingente que não para de crescer nos tempos atuais: os ávidos por espiritualidade, mas desconfiados da religião.” Calcula-se que só no Brasil “há pelo menos 30 grupos cujas crenças são baseadas nos apócrifos”.
A descoberta desses documentos popularizou várias teorias. Uma delas é a de que no quarto século EC a Igreja Católica fez uma conspiração para esconder a verdade sobre Jesus; outra diz que alguns relatos de sua vida apresentados nos escritos apócrifos foram ocultados e que os quatro Evangelhos nas Bíblias atuais foram alterados. Elaine Pagels, professora universitária de religião, comentou o assunto da seguinte forma: “Agora começamos a perceber que aquilo que chamamos de cristianismo — e o que identificamos como tradição cristã — na verdade representa apenas uma pequena seleção de fontes específicas de textos, escolhidas entre dezenas de outras.”
Na opinião de eruditos como Elaine Pagels, a Bíblia não é a única fonte para a fé cristã; existem outras, como os escritos apócrifos. Por exemplo, um programa da BBC com o tema Bible Mysteries (Mistérios da Bíblia) — “A verdadeira Maria Madalena” mostrou que os escritos apócrifos apresentam Maria Madalena como “instrutora e líder espiritual para os outros discípulos”. Disse também que “ela não é apenas uma discípula; ela é o apóstolo para os apóstolos”. Sobre o suposto papel de Maria Madalena, Juan Arias escreveu no jornal brasileiro O Estado de S. Paulo: “Hoje tudo leva a pensar que o primeiro movimento cristão, fundado por Jesus, era profundamente ‘feminino’, pois as primeiras igrejas domésticas eram as casas das mulheres que, já então, oficiavam como sacerdotisas ou bispas.”
Para muitos, as fontes apócrifas parecem ter muito mais peso do que a fonte bíblica. Essa preferência, porém, suscita algumas perguntas importantes: Os escritos apócrifos são uma fonte legítima para a fé cristã? Quando contradizem claramente os ensinos da Bíblia, em que fonte devemos acreditar — na Bíblia ou nos livros apócrifos? Será que houve realmente uma conspiração no quarto século para ocultar esses livros e alterar os quatro Evangelhos com o objetivo de omitir informações importantes sobre Jesus, Maria Madalena e outros? Para responder a essas perguntas, examinemos um dos quatro Evangelhos da Bíblia, o Evangelho de João.

Evidências do Evangelho de João

No começo do século 20 foi encontrado no Egito um valioso fragmento do Evangelho de João. Esse fragmento é conhecido como Papiro Rylands 457 (P52). Ele contém o que nas Bíblias modernas corresponde a João 18:31-33, 37, 38 e está guardado na Biblioteca John Rylands, Manchester, Inglaterra. Trata-se do mais antigo fragmento de manuscrito das Escrituras Gregas Cristãs descoberto até hoje. Muitos eruditos acreditam que ele foi escrito por volta de 125 EC, apenas uns 25 anos depois da morte de João. O incrível é que o texto desse fragmento concorda quase integralmente com o que aparece em manuscritos posteriores. O fato de que uma cópia tão antiga do Evangelho de João já circulava pelo Egito, onde o fragmento foi encontrado, apoia a conclusão de que as boas novas segundo João foram realmente registradas no primeiro século EC e pelo próprio João, como indica a Bíblia. Portanto, o livro de João foi escrito por uma testemunha ocular.
Por outro lado, todos os escritos apócrifos datam do segundo século em diante, cem anos ou mais depois dos eventos que eles relatam. Alguns peritos tentam argumentar que os apócrifos se baseiam em textos ou tradições anteriores, mas não existe prova disso. Assim, faz sentido a pergunta: Em que você depositaria mais fé — no registro de testemunhas oculares ou no registro de pessoas que viveram cem anos depois dos acontecimentos? A resposta é óbvia.*
O Papiro Rylands 457 (P52), fragmento do Evangelho de João datado do segundo século EC, foi escrito apenas algumas décadas depois do original
E o que dizer da afirmação de que os Evangelhos da Bíblia foram alterados com o objetivo de ocultar certos relatos da vida de Jesus? Há alguma evidência de que o Evangelho de João, por exemplo, tenha sido alterado no quarto século a fim de distorcer os fatos? Para responder a essa pergunta, precisamos ter em mente que uma das fontes principais das Bíblias atuais é o manuscrito do quarto século conhecido como Vaticano 1209. Se nossa Bíblia contivesse mudanças feitas no quarto século, então essas mudanças apareceriam nesse manuscrito. Felizmente, outro manuscrito que contém a maior parte de Lucas e João, conhecido como Bodmer 14, 15 (P75), data de 175 EC a 225 EC. Segundo os especialistas, o seu texto se aproxima muito do texto do Vaticano 1209. Em outras palavras, não foram feitas alterações significativas nos Evangelhos da Bíblia, e temos o Vaticano 1209 para provar isso.
Não há evidências, documentais ou outras, que provem que o texto de João — ou dos outros Evangelhos — tenha sido alterado no quarto século. Depois de examinar uma coletânea de fragmentos de manuscritos encontrados em Oxirrinco, Egito, o Dr. Peter M. Head, da Universidade de Cambridge, escreveu: “Em termos gerais, esses manuscritos confirmam o texto dos grandes unciais [manuscritos escritos em letras maiúsculas, do quarto século em diante], que são a base das edições críticas modernas. Não encontramos nada aqui que requeira um entendimento drasticamente diferente do texto primitivo do NT [Novo Testamento].”

A que conclusão podemos chegar?

Os quatro Evangelhos canônicos — Mateus, Marcos, Lucas e João — eram bem aceitos entre os cristãos pelo menos já em meados do segundo século. Diatessaron (palavra grega que significa “por meio [dos] quatro”), uma obra de Taciano muito usada e que foi compilada entre 160 e 175 EC, se baseou apenas nos quatro Evangelhos canônicos e em nenhum dos “evangelhos” gnósticos. (Veja o quadro “Uma das primeiras defesas dos Evangelhos”.) Também é interessante o comentário de Irineu, um dos Pais da Igreja, que viveu na última metade do segundo século EC. Ele afirmou que com certeza são quatro os Evangelhos, assim como são quatro os cantos do globo e quatro os ventos cardeais. Embora suas comparações possam ser questionáveis, seu argumento apoia a ideia de que, na época, existiam apenas quatro Evangelhos canônicos.
O que todos esses fatos mostram? Que as Escrituras Gregas Cristãs como as temos hoje — incluindo os quatro Evangelhos — permaneceram praticamente inalteradas do segundo século em diante. Não há nenhum motivo válido para acreditar que tenha havido uma conspiração no quarto século com o objetivo de alterar ou ocultar qualquer parte das Escrituras inspiradas por Deus. Pelo contrário, o erudito bíblico Bruce Metzger escreveu: “No fim do segundo século, . . . conseguiu-se uma forte unanimidade com respeito à maior parte do Novo Testamento entre as muitas congregações de crentes, espalhadas não apenas por todo o mundo mediterrânico, mas também por uma região que se estendia da Grã-Bretanha à Mesopotâmia.”
Os apóstolos Paulo e Pedro eram defensores da verdade da Palavra de Deus. Os dois deram fortes alertas aos seus companheiros cristãos sobre aceitar ou acreditar em qualquer coisa diferente do que tinham sido ensinados. Por exemplo, Paulo disse a Timóteo: “Ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, desviando-te dos falatórios vãos, que violam o que é santo, e das contradições do falsamente chamado ‘conhecimento’. Por ostentarem tal conhecimento, alguns se desviaram da fé.” Pedro disse: “Não, não foi por seguirmos histórias falsas, engenhosamente inventadas, que vos familiarizamos com o poder e a presença de nosso Senhor Jesus Cristo, mas foi por nos termos tornado testemunhas oculares da sua magnificência.” — 1 Timóteo 6:20, 21; 2 Pedro 1:16.
Séculos atrás, o profeta Isaías foi inspirado a dizer: “Secou-se a erva verde, murchou a flor; mas, quanto à palavra de nosso Deus, ela durará por tempo indefinido.” (Isaías 40:8) Podemos ter a mesma certeza de que Aquele que inspirou as Escrituras Sagradas também as preservou ao longo das eras para que “toda sorte de homens sejam salvos e venham a ter um conhecimento exato da verdade”. — 1 Timóteo 2:4.
“Gnóstico” e “apócrifo” vêm de palavras gregas que podem se referir respectivamente a “conhecimento secreto” e “cuidadosamente oculto”. Esses termos são usados para se referir a escritos espúrios, ou não canônicos, que tentam imitar os Evangelhos, o livro de Atos, as cartas e outras expressões inspiradas dos livros canônicos das Escrituras Gregas Cristãs.
Outra dificuldade a respeito dos escritos apócrifos é que há muito poucas cópias deles. O Evangelho de Maria Madalena, ao qual já se fez alusão, existe apenas em dois pequenos fragmentos e um maior em que parece faltar mais da metade do texto original. Além disso, há variações significativas entre os manuscritos disponíveis.

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